Ao todo, 77 pessoas participaram de
evento religioso em Ibimirim, no Sertão. Oito delas estão internadas no Recife.
Outras 52 vão passar por exames.
Por G1
PE

Secretaria de Saúde investiga primeiro surto agudo de doença de Chagas
em Pernambuco
A Secretaria de
Saúde de Pernambuco está investigando o maior surto agudo de doença de Chagas registrado
no estado. Até esta sexta-feira (31), 20 pessoas tiveram resultado laboratorial
positivo para a doença. Dessas, oito estão internadas no Hospital Oswaldo Cruz,
no Centro do Recife, com
quadro estável. Outras 12 fazem tratamento em casa.
De acordo com a
SES, as pessoas contaminadas participaram de um retiro religioso em Ibimirim,
no Sertão do estado, durante a Semana Santa, mas não há evidências para
definição da forma de transmissão da doença. A primeira notificação foi feita
no dia 20 de maio. Ao todo, 77 pessoas participaram do retiro.
O chefe do Serviço
de Infectologia HUOC, Demetrius Montenegro, explica que os médicos não
perceberam inicialmente que eram casos de Chagas. "Chegaram pessoas com
quadro de febre, dor no corpo, mancha no corpo, edema, inchaço nas pernas, nas
articulações, dores articulares, que são sintomas muito semelhantes com o que a
gente vive hoje em dia de arbovirose", detalha.
"É muito raro você ter um surto de doença de Chagas agudo assim, nessa magnitude", diz Montenegro.
Além dos 20 casos
confirmados, cinco já passaram por exames e outras 52 pessoas que participaram
do evento devem passar por exames, uma vez que a doença de Chagas pode ficar
sem sintomas durante anos.
Por estar em fase
aguda, o médico Wilson Oliveira, da Casa de Chagas, diz que a perspectiva de
cura dos pacientes contaminados no retiro existe, ao contrário dos pacientes
que estão na fase crônica.
"Ainda assim,
quem foi contaminado deve ser acompanhado até o fim da vida. O tratamento com
remédios dura apenas 60 dias. Eles não podem mais doar sangue nem órgãos.
Felizmente, nenhum paciente apresentou comprometimento neurológico",
afirma.

Pernambuco tem maior surto agudo da doença de Chagas
Investigação
A investigação de
como os pacientes foram contaminados pelo barbeiro é de responsabilidade da
Secretaria Estadual de Saúde do estado. George Dimech, gerente de doenças
transmissíveis da SES-PE, explica que uma equipe foi encaminhada a Ibimirim,
onde aconteceu o retiro.
"O evento
aconteceu em uma escola estadual toda construída em cerâmica e alvenaria. As
salas onde ocorriam as atividades tinham ar condicionado. Por enquanto não há
nada na estrutura que chame atenção. Temos que ver a origem dos alimentos
ingeridos nas refeições", afirma.
Nesses casos, o
gerente explica que o animal não resiste a altas temperaturas, como comidas
cozidas. A probabilidade é que a contaminação, via oral, tenha acontecido da
ingestão de frutas e sucos, mas ainda não se sabe se os alimentos foram levados
da Região Metropolitana do Recife para Ibirim ou compradas na cidade.
Diagnóstico

O barbeiro (Rhodnius prolixus), inseto transmissor da doença de Chagas —
Foto: AXS
Há cerca de duas
semanas, um homem e uma mulher não identificados, residentes na Região
Metropolitana do Recife, foram internados no Hospital Oswaldo Cruz. O casal
havia passado o feriado da Semana Santa em um retiro espiritual realizado por
várias igrejas evangélicas.
“Eles apresentavam
um quadro clínico sugestivo de arbovirose endêmica. Os sintomas eram febre, dor
no corpo, edema nos membros inferiores, na fase e na articulação. Poderiam ser
confundidos facilmente com dengue e chikunguya, mas a febre constante, cerca de
20 dias, causou estranhamento”, explica o Montenegro.
No relato dos
pacientes estava o gosto estranho de uma água que havia sido ingerida nos
primeiros dias de retiro. Simultaneamente, um terceiro paciente vindo do mesmo
encontro foi internado no Hospital Jayme da Fonte, também no Recife, com os
mesmos sintomas, mas sem associação com a água consumida.
“Esse terceiro
estava com os olhos amarelados e a equipe decidiu fazer um teste rápido de
malária. O resultado deu positivo. Quando fomos para o teste específico, o
parasita da malária não aparecia na lâmina, mas o parasita do barbeiro sim”,
diz o infectologista.

Secretaria de Saúde e equipe do Hospital Universitário Oswaldo Cruz
detalham diagnóstico de doença de Chagas em Pernambuco — Foto: Everaldo
Silva/TV Globo
Com a confirmação
da doença de Chagas em três pacientes, os outros 17 que chegavam aos poucos ao
Hospital Oswaldo Cruz com os mesmo sintomas e vindos do mesmo lugar, tiveram
que refazer exames de sangue e passar por novos testes. A média de idade deste
grupo é 25 anos.
“Ao todo, 20 pacientes foram diagnosticados com Chagas pelo exame de laboratório. Cinco ainda não foram confirmados e outras 52 pessoas que estiveram no retiro e não apresentaram sintomas, também serão acompanhados. Afinal, a doença pode ser assintomática”, detalha o infectologista.
A Secretaria faz
também uma busca ativa de casos suspeitos. Na investigação, se enquadram
pessoas do Cabo de Santo Agostinho, Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes e
Arcoverde que participaram do evento religioso em Ibimirim e que apresentem
febre contínua, intermitente e prolongada por cerca de uma semana.
O sintoma pode ou
não vir acompanhado de edema de face ou de membros, manchas vermelhas na pele,
inflamação no baço, náusea, icterícia, perda ou diminuição de força física, dor
nas articulações ou edema inflamatório nas pálpebras e na pele.
A enfermidade é
causada pelo protozoário Tripanossoma
cruzi e transmitida pelo barbeiro. Também é possível contrair a doença
por meio de alimentos contaminados pelo protozoário.
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